Apresentando John Gómez
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Apresentando John Gómez

December 21


Nesses meses que antecedem o Dekmantel Festival São Paulo 2018, faremos algumas entrevistas curtinhas com artistas do nosso line-up. E pra abrir os trabalhos, falamos com um dos nossos DJs preferidos, diretamente de Londres: John Gómez!

Você poderia se apresentar rapidamente?
Olá, sou um colecionador musical com vínculos aos selos Music From Memory e Rush Hour, de Amsterdam.

Como é que o gosto pela música foi se desenvolvendo ao longo dos anos? E como é que você chegou na música brasileira – que hoje pode ser considerada sua expertise?
Eu me envolvi com a música brasileira através da cena ‘rare groove’ de Londres. Cresci em Madrid, mas tive acesso a esta cena escutando DJs como Gilles Peterson, lendo a revista Straight No Chaser e, talvez o fator mais importante de todos, visitando lojas de disco como a Mr Bongo Record, sempre que visitava a Inglaterra. A redescoberta da música brasileira, junto com a do Jazz, Soul e Funk, foi primordial para essa cena, e selos como Far Out começaram a lançar discos de artistas brasileiros como Joyce, Azymuth e Marcos Valle. Eu era do Hip-Hop naquela época e a Mr Bongo, se especializava em importar releases de selos independentes do estio, que eram impossíveis de encontrar fora dos EUA. Eu entrava na Mr Bongo atrás de tracks de Hip Hop, mas quando comecei a escutar os clássicos Latinos e brasileiros que vendiam no andar de cima, meu foco começou a mudar. Acabei pegando gosto pela música brasileira e ele continua comigo até hoje. Portanto, a Mr bongo – e de forma mais ampla, a cena Londrina – me ajudou a construir uma ponte entre o Hip Hop e estes outros sons. Mas eu jamais me descreveria como um expert no assunto. Tenho uma infinidade de interesses que vão além do brasil, e estou sempre aprendendo com os brasileiros.

 

Hoje você vive em Londres, onde você comanda as noites Tangent ao lado do fenomenal DJ Nick The Record. Como foi que isso começou e o que isso trouxe pra sua carreira?
Conheço o Nick há mais ou menos uns 15 anos – desde que comecei a comprar discos na sua loja, a DJ Friendly. Comecamos a Tangent em 2014, um pouco antes da Plastic People (um clube extremamente influente de Londres) fechar. Assim como muitos, sentimos que ela deixou um enorme buraco na noite de Londres e isso nos incentivou a começar algo que pudesse preencher essa brecha. A Tangent deve muito à Plastic People, mas também à experiência do Nick como residente na lendária festa japonesa, a Lifeforce. Nosso etos é simples: tocar música boa num sistema de som incrível. No começo, nem clube tínhamos, alugávamos um porão escuro e trazíamos o sistema de som, a música e as pessoas. Esse espirito faça-você-mesmo e cooperativo sempre foi muito importante pra nós, porém hoje a festa já não cabe mais onde começamos e recentemente nos mudamos para a Pickle Factory. Mas o espírito continua o mesmo e somos afortunados em ter a galera mais gente boa e aberta de Londres como frequentadores.

 

Esse ano também foi um de destaque na sua carreira musical, não é mesmo? Você lançou uma compilação excepcional na Music From Memory do Jamir Tiller e Tako Reyenga, focando em joias perdidas da música brasileira e o feedback tem sido fantástico. Como foi fazer essa compilação e como é que você selecionou os artistas?
Om certeza 2017 foi um ano cheio de recompensas. Outro Tempo foi super bem recebido e fico muito feliz em ver como o disco é amado. Quando tive a ideia, pressenti que poderia ser algo que fosse chamar a atenção das pessoas, mas parece que ele abriu uma porta musical para muitas pessoas, coisa que eu nem imaginava que pudesse acontecer.
 

Longas horas de trabalho e muito carinho foram exercidos para compilar o Outro Tempo, desde a caça às músicas à programação das seleções, conseguir todas as licenças e encontrar um design que complementasse e refletisse a música.  Viajei ao brasil como um toca-discos portátil e escutei centenas de discos independentes da época que tivessem um som único. Naquela época, eu não conhecia ninguém no brasil, então me joguei nessa história sozinho. Hoje em dia sei que pessoas como o Selvagem também estavam numa busca muito parecida com a minha. Eu já tinha alguns discos em mente, mas foi muito importante ir ao brasil como uma mente aberta, já que muitos dos discos que acabaram na compilação, haviam sido descartados. Precisei re-calibrar meus ouvidos de forma que pudesse escutar além dos sons já estabelecidos e reconhecidos associados ao brasil – só assim encontraria algo diferente, interessante e único.


Você também se juntou ao Red Bull Music Academy recentemente, para um show especial em São Paulo com algum dos artistas da compilação que se apresentaram ao vivo – incluindo a Maria Rita Stump, que estará no Dekmantel Festival São Paulo em março também. A experiência correspondeu às suas expectativas?
Sim! Em junho, o compositor e produtor Kassin da Red Bull Music Academy e eu, trabalhamos juntos pra fazer esse show ao vivo do Outro Tempo, no lendário Teatro Oficina de São Paulo. Formamos um grupo que incluiu a Maria Rita Stump e Os Mulheres Negras, ambos artistas que se apresentarão no Dekmantel, assim como a Priscilla Ermel, o Nando Carneiro, Marco Bosco, Grupo Cinema, e Paulinho da UAKTI. Foi extremamente desafiador juntar todos estes artistas - logística e musicalmente falando. Além do fato de muitos deles nunca terem se conhecido e muito menos tocado juntos, também havia o agravante de que muitos deles já não se apresentavam há anos. No final das contas, foi um show muito especial que deu coesão e continuidade ao projeto. Por exemplo, o fantástico tecladista, o jovem Danilo Andrade que tocou naquele show hoje toca na banda com a qual a Maria Rita se apresentará no Dekmantel. Me dá uma enorme satisfação pensar que algumas das conexões que ajudei a criar entre musicistas e gerações podem ser o inicio de novos e instigantes projetos.

 

Além de tocar no festival ano que vem, o que mais está na sua agenda para os próximos meses?
Minha agenda de DJ explodiu no último ano então tenho muitas gigs pela frente – a grande parte na Europa, mas também algumas tours maiores na primavera. Mas quero ter tempo de focar em novos projetos musicais também.

5 tracks que o John estará trazendo para o Dekmantel Festival São Paulo em março: